Várias cidades ao redor do mundo estão adotando medidas para controlar o turismo excessivo e seus efeitos negativos nas comunidades locais.
O overturismo é um desafio global que exige soluções inovadoras ou muitas vezes simples. Cidades como Bonito e Itá demonstram que é possível conciliar o crescimento turístico com a preservação ambiental através de práticas como o voucher único e a certificação ambiental.
O fenômeno do overturismo, caracterizado pelo excesso de visitantes em destinos turísticos, tem se tornado um desafio cada vez mais presente em diversas cidades ao redor do mundo. Com impactos como congestionamentos, degradação do patrimônio e ambiental e sobrecarga da infraestrutura.
De acordo com o último relatório da UNWTO, o turismo internacional cresceu em média 4% ao ano nos últimos cinco anos, impulsionado por fatores como a crescente classe média global e a maior conectividade aérea. Estima-se que o setor continue crescendo a uma taxa média de 3% até 2030.
Diante desse cenário, é fundamental que gestores públicos, empresas do setor turístico e a própria comunidade se unam para implementar ações efetivas de prevenção aos efeitos gerados. Somente com uma abordagem integrada e colaborativa será possível transformar esses destinos em lugares preservados.
Descubra como o voucher único e outras iniciativas transformaram Bonito em um modelo de turismo responsável
Bonito, no Mato Grosso do Sul, é reconhecido mundialmente como um destino de ecoturismo exemplar. Um dos pilares desse sucesso é o voucher único, um sistema inovador de gestão turística implementado em 1995.
O que é o Voucher Único?
O voucher único é um documento obrigatório para acessar os atrativos turísticos de Bonito. Funciona como um passaporte para explorar as belezas naturais da região, garantindo um controle eficiente do fluxo de visitantes e contribuindo para a preservação do meio ambiente.
Benefícios do Voucher Único:
- Controle de Visitação: Limita o número de visitantes em cada atrativo, evitando a superlotação e garantindo uma experiência mais agradável para todos.
- Preservação Ambiental: Contribui para a proteção dos ecossistemas frágeis, como rios, cachoeiras e cavernas.
- Gestão Financeira: Facilita o controle tributário e a arrecadação de impostos, garantindo recursos para a manutenção e desenvolvimento da cidade.
- Qualidade dos Serviços: Estimula a capacitação dos profissionais do turismo, garantindo um serviço de alta qualidade.
- Planejamento Urbano: Auxilia no planejamento urbano e na organização da cidade, evitando o crescimento desordenado.
Como Funciona?
O voucher é adquirido nas agências de turismo e dá acesso a todos os atrativos de Bonito. A integração entre agências, atrativos e poder público garante a eficiência do sistema. Além disso, a obrigatoriedade de guias turísticos acompanha os visitantes, proporcionando informações sobre a fauna, flora e cultura local.
Resultados Concretos:
- Aumento da arrecadação: O voucher único contribuiu significativamente para o aumento da arrecadação de impostos, permitindo investir em infraestrutura e preservação ambiental.
- Melhoria da qualidade dos serviços: A capacitação dos profissionais do turismo resultou em um atendimento de excelência aos visitantes.
- Reconhecimento internacional: Bonito se tornou referência mundial em turismo sustentável, atraindo visitantes de todo o mundo.
O voucher único é um exemplo de como a gestão inteligente do turismo pode contribuir para o desenvolvimento sustentável de um destino. Mas além dele, outras medidas complementares fazem parte do sucesso de Bonito, como: o acompanhamento obrigatório de guias, o limite de visitação em atrativos frágeis, a capacitação do trade turístico e a educação ambiental. Vamos ver a seguir um pouco mais sobre essas medidas.
A Importância dos Guias Turísticos
O acompanhamento obrigatório de guias turísticos em todos os atrativos de Bonito é um dos pilares do sucesso do modelo de turismo sustentável da cidade. Os guias desempenham um papel fundamental na interpretação ambiental, transmitindo conhecimento sobre a fauna, flora e os ecossistemas locais aos visitantes. Além disso, eles atuam como mediadores entre os turistas e o meio ambiente, orientando sobre as melhores práticas e evitando comportamentos que possam causar danos.
Limitando o Impacto: A Gestão da Capacidade de Carga
A definição de limites de visitação em cada atrativo é essencial para garantir a preservação ambiental. Bonito estabeleceu uma capacidade de carga para cada local, considerando sua fragilidade e a necessidade de garantir uma experiência de qualidade aos visitantes. Essa medida evita a degradação dos ambientes naturais e contribui para a conservação da biodiversidade.
Capacitando para a Sustentabilidade
A capacitação contínua dos profissionais do turismo é outro fator crucial para o sucesso de Bonito. Guias, recepcionistas, proprietários de hotéis e restaurantes participam de programas de treinamento que abordam temas como ecologia, gestão de resíduos, atendimento ao cliente e marketing sustentável. Essa capacitação garante que todos os envolvidos no setor compreendam a importância da sustentabilidade e atuem de forma responsável.
Educando para o Futuro
A educação ambiental é uma ferramenta poderosa para garantir a sustentabilidade do turismo a longo prazo. Em Bonito, o tema é abordado nas escolas desde a educação infantil, preparando as futuras gerações para valorizar o meio ambiente e o turismo sustentável.
Bonito demonstra que é possível conciliar desenvolvimento econômico e preservação ambiental através do turismo. O modelo de gestão implementado na cidade pode servir de inspiração para outros destinos que buscam um futuro mais sustentável. Ao replicar as práticas de Bonito, outros destinos podem contribuir para a conservação da biodiversidade, melhorar a qualidade de vida das comunidades locais e promover um turismo mais responsável e consciente.
Itá, uma outra cidade no caminho responsável
A cidade de Itá, localizada em Santa Catarina, tem se destacado no cenário nacional e internacional como um exemplo de turismo responsável. Através de iniciativas inovadoras e um forte compromisso com a sustentabilidade, Itá conquistou um lugar de destaque na lista dos 100 destinos turísticos mais sustentáveis do mundo, concedido pela Green Destinations.
O Projeto Selo Verde: Um Motor para a Transformação
O projeto “Selo Verde” foi fundamental para impulsionar a transformação de Itá em um destino turístico sustentável. Através dessa iniciativa, empresas e organizações locais são certificadas e reconhecidas por suas práticas sustentáveis. O selo, além de valorizar as ações de cada um, contribui para a construção de uma imagem positiva da cidade como um destino comprometido com o meio ambiente e com as comunidades locais.
Fatores que Contribuíram para o Sucesso de Itá:
- Engajamento da comunidade: A participação ativa da comunidade local em todas as etapas do processo foi essencial para o sucesso do projeto. A população itaense abraçou a causa da sustentabilidade e se tornou protagonista na construção de um futuro mais verde para a cidade.
- Parcerias estratégicas: A Prefeitura de Itá estabeleceu parcerias com diversas instituições, como universidades, empresas e organizações da sociedade civil, para desenvolver e implementar as ações de sustentabilidade.
- Investimento em educação ambiental: A educação ambiental é um dos pilares do projeto “Selo Verde”. Através de programas educativos, a população é conscientizada sobre a importância da preservação do meio ambiente e da adoção de práticas sustentáveis no dia a dia.
- Promoção do turismo responsável: Itá tem investido em ações de promoção do turismo responsável, incentivando os visitantes a conhecerem a cidade de forma sustentável e a respeitarem o meio ambiente e a cultura local.
Itá como Referência para Outros Destinos
O exemplo de Itá demonstra que é possível conciliar desenvolvimento econômico e preservação ambiental através do turismo. As práticas adotadas pela cidade podem servir de inspiração para outros destinos que buscam um futuro mais sustentável. Ao replicar as iniciativas de Itá, outros municípios podem contribuir para a conservação da biodiversidade, melhorar a qualidade de vida da população e promover um turismo mais responsável e consciente.
Cidades pelo mundo limitam o turismo para preservar o Local
Diversas cidades ao redor do globo têm implementado medidas para controlar o fluxo de turistas e garantir a sustentabilidade dos destinos. Vamos conferir algumas dessas ações.
1. Limitação de Visitantes:
Várias cidades e sítios arqueológicos têm adotado estratégias para limitar o número de visitantes e evitar a superlotação. A Islândia, por exemplo, restringe o número de cruzeiros que atracam nas Ilhas Westman e implementou um sistema de reservas para a popular Lagoa Azul. Na Itália, a Cinque Terre limita o número de visitantes por dia em algumas trilhas, enquanto a Acrópole de Atenas estabeleceu um limite de 20.000 turistas por dia. Machu Picchu, no Peru, também possui um controle rigoroso, permitindo a entrada de apenas 4.500 a 5.600 visitantes por dia, divididos em horários específicos e grupos de no máximo 10 pessoas por guia.
2. Taxas Turísticas:
A cobrança de taxas turísticas tem se mostrado uma ferramenta eficaz para gerar recursos para a conservação do patrimônio e a melhoria da infraestrutura turística. As Ilhas Baleares, na Espanha, e Bruges, na Bélgica, são exemplos de destinos que implementaram taxas turísticas. Em Veneza, uma taxa de entrada está em discussão para ajudar a financiar a conservação da cidade.
3. Restrições de Acesso:
Para proteger áreas sensíveis e garantir a qualidade de vida dos moradores, algumas cidades têm restringido o acesso de turistas a determinadas áreas. Dubrovnik, na Croácia, proíbe o transporte de bagagem com rodas no centro histórico, enquanto Kyoto, no Japão, proibiu a entrada de turistas em um distrito de geishas. Nas Ilhas Galápagos, o acesso a algumas ilhas é restrito e os turistas devem seguir rotas pré-definidas e participar de visitas guiadas. Essa medida visa proteger a rica biodiversidade marinha e terrestre do arquipélago.
4. Fechamento Temporário:
Em casos extremos, o fechamento temporário de destinos turísticos pode ser necessário para permitir a recuperação ambiental e cultural. A ilha de Boracay, nas Filipinas, foi fechada por seis meses para realizar obras de recuperação e implementar novas regras para o turismo.
5. Outras Medidas:
Além das medidas mencionadas acima, outras cidades têm adotado iniciativas como campanhas de conscientização, incentivo ao turismo sustentável e promoção de destinos alternativos. Paris, por exemplo, lançou uma campanha para incentivar o turismo fora da alta temporada, enquanto Bordeaux se comprometeu a obter certificação ecológica para seus estabelecimentos turísticos.
Lições para um turismo mais sustentável e responsável
Os exemplos de cidades como Machu Picchu, Fujikawaguchiko, Atenas, Lagoa Azul, Amsterdã, Bali, Ilhas Baleares, Veneza, Kyoto e Goyang demonstram que é possível conciliar desenvolvimento econômico e preservação ambiental através do turismo. Ao implementar medidas como a limitação de visitantes, sistemas de reservas, taxas turísticas, restrição de acesso a áreas sensíveis, promoção do turismo fora da alta temporada e investimento em infraestrutura sustentável, essas cidades conseguiram minimizar os impactos negativos do turismo de massa e garantir uma experiência de qualidade tanto para os visitantes quanto para as comunidades locais.
Lições-chave a serem aprendidas:
- Planejamento estratégico: É fundamental que os destinos turísticos desenvolvam um planejamento estratégico que contemple a capacidade de carga dos atrativos, as necessidades da comunidade local e as expectativas dos visitantes.
- Participação da comunidade: A comunidade local deve ser envolvida em todas as etapas do processo de planejamento e implementação das políticas de turismo.
- Inovação e adaptação: É preciso estar atento às novas tecnologias e tendências do setor, buscando soluções inovadoras para os desafios do turismo.
- Monitoramento e avaliação: As políticas de turismo devem ser constantemente monitoradas e avaliadas, para que ajustes possam ser feitos quando necessário.
As cidades podem se tornar destinos mais sustentáveis, resilientes e competitivos, contribuindo para a preservação do patrimônio cultural e natural. Quanto mais nos engajarmos com essa mudança e valorizarmos os locais que adotam essas práticas, certamente contribuiremos para que mais destinos possam agir nessa rota da conservação.
Fontes para mais informações oficiais ou busca por dados
- Organização Mundial do Turismo (UNWTO): A UNWTO publica relatórios anuais sobre o turismo internacional, fornecendo dados sobre o impacto econômico do setor e tendências globais.
- World Travel and Tourism Council (WTTC): O WTTC é uma organização que representa o setor privado de viagens e turismo, e publica relatórios detalhados sobre o impacto econômico do turismo em diversos países.
- Banco Mundial: O Banco Mundial possui uma vasta base de dados sobre indicadores econômicos e sociais, incluindo informações sobre o setor turístico.
- Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA): O PNUMA publica relatórios sobre o impacto ambiental de diversas atividades humanas, incluindo o turismo.
- Organizações não governamentais (ONGs): ONGs como a WWF e o Greenpeace realizam estudos sobre o impacto ambiental do turismo e publicam relatórios com dados relevantes.